OPHIDIA é o segundo capítulo da série de fabulações entre a House of Mamba Negra e a coreógrafa Wallace Ferreira, que desde 2023 convoca a cultura ballroom a tensionar os limites entre a dança, teatro, coreografia, moda e performance. Nesta etapa se debruça sobre as definições construídas acerca da ideia de coreografia e tem como principais questões: quais são os corpos possíveis de coreografar? Quem tem o direito de se chamar coreógrafa? Onde a ballroom se encontra na linha do tempo da história dos coreógrafos?
O que se reivindica é a ballroom enquanto uma técnica que demanda rigor e produz um vocabulário gestual único e que assim como as coreografias eternizadas pela história da dança também poderia ter seu repertório arquivado.
Quais são as danças que merecem desaparecer? Em OPHIDIA o que está em disputa é o espaço onde nossas histórias permaneçam. Em um mundo onde governos de extrema direita apagam da internet vídeos da cultura ballroom, buscamos nesta peça maneiras de arquivar repertórios ballroom em nossos corpos. Movidas pela pergunta “Quais são as imagens que queremos eternizar?” e inspiradas por obras “The Hot One Hundred Coreographers” de Cristian Duarte, criamos uma lista de coreografias ballroom, estudando vídeos que formaram o conhecimento coletivo na comunidade e imagens que construíram o imaginário do salão de baile. Visitando arquivos dos anos 90 até o presente, de pessoas do
Brasil e de fora dele, o dispositivo coreográfico se estabelece no arquivamento de gestos, na sobreposição de memórias e na reativação de legados. É uma investigação em dança que busca resistir a hegemonia do apagamento pelo tempo, numa tentativa de fazer com que histórias trans da ballroom permaneçam eternas e vivas em nossos corpos como repertório.